quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Epílogo


Fechou a porta de casa segurando o choro, com as mãos a tremer descontroladamente. Não precisaria derramar mais nenhuma lágrima por nada. Se mataria naquela mesma tarde e nada mais teria de fazer nenhum sentido. Foi até seu quarto e abriu a janela. Observou a cidade agitada próxima às dezesseis horas. Já vira aquela imagem diversas vezes. Décimo oitavo andar. Seu ex-marido sempre gostou de altura e ela nem poderia imaginar o quanto isso seria útil. O motivo do suicídio não era banal, pois se tratava de uma acumulação de motivos sem solução que apenas ela entendia. Ascendeu um cigarro, ainda tremendo muito, segurando o choro. Todo aquele peso não poderia mais ser suportado e a vergonha seria demais para ela. De qualquer forma estava sozinha, não teria o auxílio necessário de ninguém quando realmente precisasse e nada mais adiantaria continuar tendo ar em seus pulmões de olhos abertos. Ascendeu outro cigarro. Sabia que tudo não teria mais volta. Já tinha doado a maioria de suas coisas de valor durante as duas ultimas semanas. Parou definitivamente com as aulas sobre a História da Arte e também as sessões para tirar sua carteira de motorista por fim! Recusara vários pedidos de festas e encontros com seus amigos, não queria ver ninguém e também não comia absolutamente nada há quatro dias. Estava determinada. Olhou pela janela mais uma vez e ascendeu outro cigarro. Em um gesto quase sem intensão, ela foi até a cozinha, passando pela cômoda da sala antes, pegou caneta e rasgou um pedaço de papel. Sentou-se na mesa e começou a escrever uma carta. Começou, não gostou, parou e jogou o papel fora. Olhou para o lixo e começou a gritar, girando e segurando os cabelos. Tudo estava muito confuso. Voltou para o quarto e para toda sua essência de morte. Ascendeu outro cigarro e tirou os sapatos. Começou a subir na guia da janela, segurando dos lados com muita força. Ouviu seu celular tocando. Olhou para trás. Tocava a música Your Time Has ComeQue ironia! Quem poderia ser? O que teria para falar a ela?

Não importava, pois já era o momento final.

Ficou ereta na janela, visão confiante, mas não conseguia largar as mãos das paredes laterais e estavam bem apertadas. Deixou o cigarro cair de sua boca e pela primeira vez, desde que tomara a decisão de por fim em sua vida, começou a chorar e a fraqueza a dominou afinal. Chorou, porém, sem pronunciar nenhum som. Este mesmo silêncio permaneceu no momento em que suas mãos relaxaram e ela saltou de braços abertos para frente.
Sentiu-se leve, não chorava mais e uma paz invadiu seu coração.
Aqueles que a entendiam sabiam exatamente que aquilo não era o fim.
Era uma libertação. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário